Questão 2 do Concurso Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (AL-GO) - Assistente Administrativo - CS-UFG (2015)

Envelhecer e uma arte?

Nas palavras de Cicero, envelhecer e coisa boa. Dois mil anos depois, com fartura de numeros, o tema reaparece nas pesquisas iniciadas por R. Easterlin. Detecta-se uma “curva da fossa”: entre 40 e 50 anos, bate um pessimismo, uma inseguranga difusa. Mas dai para a frente voltamos a ficar de bem com a vida, cada vez mais felizes - obvio, so ate o corpo fracassar. Sera?

Esse lado emocional-filosofico e nebuloso. Amadurecemos com a idade, como sugerem as pesquisas? Ou acumulamos azedumes e rabugices? Ficamos cada vez mais impacientes com a burrice humana? Ou mais bem blindados contra ela? Cada um e cada um.

O psicologo A. Maslow documentou o que significa para ele ir ficando velho. Percebia uma perda progressiva da motivagao para fazer as coisas e lidar com desafios. Mais e mais empreitadas deixavam de valer a pena.

Em sua ultima entrevista, Paulo Freire segue caminho paralelo a Maslow, afirmando que envelhecer e perder a curiosidade.

O caso das faculdades mentais e bem documentado pela pesquisa. Degrada-se a memoria, sobretudo a de curto prazo e a dos nomes e datas. O raciocinio matematico comega a derrapar ja a partir dos 30. De fato, todos os avangos na area foram feitos por jovens.

A boa noticia e que a capacidade de julgamento, a sabedoria, o esprit de finesse, mencionado por Pascal, nao apenas sobrevivem, mas progridem. Comprovou-se que os velhos precisam ler menos para decidir sobre algum assunto, com igual competencia. E, nas humanidades, amadurecemos com os anos, e muito. Romancistas e historiadores? Prefiram os velhos. Com o passar dos anos, politicos entendem melhor a natureza humana, por isso sobrevivem na carreira.

Sabemos tambem que a inteligencia reage como um musculo. A qualquer idade, e fortalecida com exercicios e evapora com a inagao. Dai a importancia de exercitar a ambos. Se encolhem os desafios mentais na aposentadoria, risco a vida! Nao e o contracheque que salva vidas; mas a letargia intelectual mata. Se ficarmos esperando pela morte, ela vira mais celere.

Na minha incauta opiniao, conversa de doente nao faz bem a saude. Tampouco e uma boa receita para a longevidade voltar aos lugares em que se viveu ou trabalhou, nao encontrar mais conhecidos e ser tratado como um estranho.

Caminhando pelas ruas, vemos logo quem tem jeito de aposentado. Falta chispa nos olhos e o andar sugere que nao quer chegar a parte alguma. Quem le obituario, para ficar sabendo dos amigos que morreram, mostra na cara sua vocagao para a morte. Cruz-credo! Alias, a solidao e fatal! Por isso, vale o conselho de Samuel Jonhson: enquanto jovem, e preciso cultivar os amigos, pois com a idade vai ficando dificil renovar o plantel.

A decadencia do corpo e inexoravel. Mais dias de indisposigao, doi aqui, doi acola, mais enguigos e reparos, mais remedinhos para isso ou para aquilo. Contudo, avangos na medicina e melhores estilos de vida freiam espetacularmente a degradagao do corpo. Mantem serelepes muitos velhos que, faz poucas decadas, estariam derrubados. Vejam nas ilustragoes antigas a imagem dos avos, circunspectos e encarquilhados. Gente nas mesmas idades esta hoje malhando nas academias, subindo montanhas e gabando-se de suas proezas, em todos os azimutes. Obviamente, isso da trabalho: ha que buscar remedios miraculosos, proteses, mandar recauchutar o coração, fazer dietas e exercicios árduos para manter a massa muscular.

Isso sao teorias.

O unico ganho indisputavel e nao ter que entrar em filas



Ao perguntar, no texto, “Ou mais bem blindados contra ela?", o autor se refere à

  • A insegurança difusa que ocorre entre os 40 e 50.
  • B intolerância com a burrice humana.
  • C decadência do corpo e da mente.
  • D letargia intelectual que pode levar à morte.