Questão 5 do Concurso Liquigás Distribuidora S.A (LIQUIGAS) - Assistente Administrativo - CESGRANRIO (2010)

Uma simples folha de papel

    Ontem, num programa de TV, discutíamos entre escritores e jornalistas o drama do papel em branco na máquina e, diante dele, o pobre de nós obrigado a espremer o juízo até produzir qualquer coisa que encha as laudas necessárias e possa ir para a impressão. Acho que essa angústia existe desde que o primeiro escriba de cuneiforme, na Mesopotâmia, se afligia por uma ideia a gravar no tijolinho fresco, e depressa, antes que o barro secasse. Ou o emissário real, no Egito, diante do papiro virgem, rabiscando tentativamente um começo de hieróglifo sem saber o que contar na mensagem para o Faraó.

    O curioso é que nem sempre, desse esforço de última hora, sai um resultado pífio. Às vezes, depois de minutos e minutos de indecisão e bloqueio, brota de repente uma ideia que é um clarão, o escriba bate freneticamente na máquina, tentando forçar os dedos a uma marcha mais veloz que a dos miolos; e em pouco ele entrega à oficina a sua melhor matéria do mês. Quando esse branco se dá na produção de livro, não tem importância. O romance espera, o conto espera. E o poema só nasce na hora que quer. O jornal – que vive à custa do cotidiano e é voraz por fatos atuais e comentários sobre esses fatos, mal se consolando com projeções sobre o futuro ou meditações sobre o passado –, o jornal é que é o grande tirano. Ele é como um alto-forno de usina siderúrgica que não pode se apagar nunca e exige, dia e noite, combustível, minério, e a atenção infatigável dos seus alimentadores e manobreiros.

    Aliás, para fazer justiça, não é propriamente o jornal o nosso tirano. O déspota implacável é mesmo o público, de quem o jornal é apenas o humilde, solícito, serviçal. O público é quem dá a sentença de vida e morte, o público é quem boceja ou aplaude. Ele é quem recorta com amor o tópico feliz, ele quem amarrota a folha enfadonha a caminho da cesta. Nessa trêmula serventia vivemos todos os que dependemos da fera,

(...)

QUEIROZ, Rachel de. As Terras Ásperas. Editora Siciliano. (trecho)



A cronista compara o jornal ao alto-forno de uma siderúrgica: “...não pode se apagar nunca e exige, dia e noite, combustível, minério, e a atenção infatigável dos seus alimentadores...” (L. 27-30)
O combustível – o alimento do jornal – NÃO é constituído de
  • A cotidiano.
  • B fatos atuais.
  • C comentários sobre fatos atuais.
  • D matérias enfadonhas.
  • E projeções sobre o futuro.