Um homem leal (fragmento)
Apaguemos a lanterna de Diógenes: achei um homem. Não é príncipe, nem eclesiástico, nem filósofo, não pintou uma grande tela, não escreveu um belo livro, não descobriu nenhuma lei científica. (...)
Não, o homem que achei não é nada disso. É um barbeiro, mas tal barbeiro que, sendo barbeiro, não é exatamente barbeiro. Perdoai a logomaquia; o estilo ressente-se da exaltação da minha alma. Achei um homem. Se aquele cínico Diógenes pode ouvir, do lugar onde está, as vozes cá de cima, deve cobrir-se de vergonha e tristeza; achei um homem. E importa notar que não andei atrás dele. Estava em casa muito sossegado, com os olhos nos jornais e o pensamento nas estrelas, quando um pequenino anúncio me deu rebate ao pensamento, e este desceu mais rápido que o raio até o papel. Então li isto: “Vende-se uma casa de barbeiro fora da cidade, o ponto é bom e o capital diminuto; o dono vende por não entender...”
Depreende-se o sentido denotativo na frase:
- A achei que ele tinha mãos estúpidas e olhos traiçoeiros;
- B o vento varreu sua vontade de continuar como barbeiro;
- C fiz uma cara assustada quando li o anúncio e ela sorriu;
- D um grito de café fresco animou o escritor, que logo o bebeu;
- E ele viverá um momento doce quando vender a barbearia.